06/04/2017 – Revista Direcional Condomínios

Gestão das Contas na Individualização

Instrumento favorece a redução do consumo e a economia no condomínio, mas a individualização, especialmente a da água, esbarra em desafios no cálculo da conta atribuída às unidades.

Por Rosali Figueiredo

O acompanhamento mensal das despesas dos condomínios realizado pela Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo} mostra que a população está gastando mais com a água desde o final da estiagem que atingiu a Capital e a Região Metropolitana entre o final de 2014 e princípios de 2016. Em maio do ano passado, a concessionária pública da região, a Sabesp, extinguiu uma política de bonificação por economia ou de multas por excessos, que vigorou durante a seca.

Por exemplo, a participação da conta d’água no total gasto pelos condomínios em novembro do ano passado foi de 7,35% contra 6,53% do mesmo mês em 2015. Desde o final do programa de bônus. a entidade apurou um consumo de água em média 20% maior. Essa é urna das razões pelas quais aumentou no ano passado a procura dos condomínios pela individualização, segundo Marco Aurélio Teixeira, gerente de recursos hídricos de empresa do setor. “Dobramos a quantidade de pontos comercializados”, diz. Foram cerca de oito mil novos hidrômetros vendidos em 2016 contra quatro mil em 2015, “um verdadeiro boom. ainda reflexo da seca do período anterior”. Marco Aurélio atribui a demanda ainda à tentativa de se enxugar as despesas ordinárias, principalmente nas edificações entregues com a estrutura preparada para a individualização.

FECHANDO A CONTA
Atualmente, predominam no mercado dois tipos de tecnologias de leitura dos hidrômetros: por radiofrequência ou através de uma rede de cabos . De outro lado ‘ existem dois modelos de gestão da conta individualizada da água em São Paulo: aquele vinculado ao Programa ProAcqua da Sabesp, em que a concessionária pública emite a conta diretamente para o apartamento; e o de autogestão, em que s edifícios assumem a responsabilidade pela leitura mensal de cada hidrômetro e pelo lançamento dos valores correspondentes ao consumo, com o apoio ou não da prestadora de serviços que instalou os medidores. Ainda aqui há duas possibilidades de cálculo da conta por apartamento:
– Utiliza-se uma formula simplificada, .aplicando-se o total emitido pela Nota Fiscal da Sabesp sobre o consumo em metros cúbicos, para extrair um valor médio que será multiplicado pelo gasto de cada unidade;

– Utiliza-se a tabela progressiva por faixas de consumo praticada pela concessionária: Até 10 metros cúbicos por mês. é lançada uma tarifa única; as demais faixas estão divididas entre 11 a 20 m³; 21 a 30; 31 a 50; e acima de 50. Após
a 21 m³, os valores mais do que dobram em São Paulo e em algumas cidades da Região Metropolitana. Na fórmula simplificada, a soma do total, arrecadado das unidades deve ficar menor que o valor da Nota Fiscal da Sabesp, diferença que, em geral, equivale ao consumo das áreas comuns, aponta Marco Aurélio Teixeira. Já na tabela progressiva, condomínio geralmente soma uma arrecadação maior oriunda do pagamento individual feito pelos apartamentos, explica Segundo ele, isso ocorre pelo fato de as tarifas aumentarem substancialmente nos consumos mais elevados, como em coberturas dotadas de piscinas e cascatas, ou nas unidades despreocupadas com a economia.

O especialista defende que os condomínios optem por esse segundo modelo e, se possível, busquem fazer um monitoramento diário dos hidrômetros. “Quanto mais doer no bolso, mais o condômino irá se conscientizar.” Além disso, há uma questão de justiça com os moradores mais engajados mo consumo racional, além de se dispor de uma ferramenta de caça vazamentos. Para a gerente de condomínio Alessandra Muniz, que atende a sete edifícios com individualização, 70% deles optaram pelo uso da tabela progressiva da Sabesp.

NOS CONDOMÍNIOS

Em 2016, muitos síndicos foram surpreendidos pelo final das operações, sem aviso prévio, de uma prestadora de serviços no setor, a lsta Brasil, que operava através de radiofrequencia para levantamento de dados de consumo. O con­domínio The Spotlight Perdizes, em que vive a sindica e advogada lrina llzzun, foi um dos prejudicados. Mas isso não desestimulou o corpo diretivo, que abriu concorrência para nova individualização, já que a empresa anterior operava com tecnologiaf.echada, impossibilitando o reaproveitamento dos medidores. “Porém, fizemos questão de contratar uma il’ecnologia que possibilite a portabilidade”, ressalta a advogada.
Durante os sete meses que se estabeleceram entre o fim do serviço da lsta e o início do novo sistema, a l’eitura dos hidrômetros de água e gás foi manual. “Col’ocava os dados de consumo em planilhas do Excel. E percebi, por exemplo, que parte dos medidores de gás não condiziam com o real consumo”. relata lrina. Apesar da necessidade de entrar em cada uma das 78 unidades para coletar os dados relativos ao gás, o trabalho foi facilitado pois o prédio é dotado de prumada única de água por apartamento, com o medidor localizado em shaft externo. Com a nova individualização, os gestores do Spotlight utilizam a tabela progressiva da Sabesp para o lançamento das contas individualizadas.
Também o Condomínio Portal Domínio Marajoara dispunha de tecnologia lsta nos medidores de água e gás. O sirndico Paulo Fontes e o conselheiro Wilson Loesch, graduado em Sistemas de Informação pela l.llniversidade Mackenzie, desenvolveram uma plataforma própria de cálculo dos valores correspondentes ao consumo d’água, aferido por um hidrômetro externo a cada uma das 594 unidades, distribuídas em sete torres.
Segundo os gestores, em princípio a leitura era feita por funcionários do condomínio, mas, agora, foi contratada empresa para realizar o serviço. “O leiturista prepara uma planilha com os dados e carregamos no nosso sistema, desenvolvido por mim, para calcular o consumo”. explica Wilson. “O cálculo é feito como se fosse a leitura da Sabesp, por faixas de consu­mo.” E a diferença apurada é utilizada para se abater o valor das áreas. comuns. Quanto ao gás, o Domínio Marajoara está providenciando a troca do sistema de radiofrequência dos gasômetros. “O software de leitura é da empresa de tele­metria. Compramos a licença e os cálculos serão feitos por outro software”, finaliza o conselheiro.